Descoordenação e falta de prevenção provocam desperdício de recursos e agravamento de riscos na floresta

O Eurodeputado José Manuel Fernandes considera inconcebível a falta de uma estratégia clara para o sector das florestas no País, o que tem levado à desvalorização de um recurso de grande importância económica, social e ambiental, ainda para mais num período de grave crise global e em que ressalta a progressiva escassez das matérias-primas e a cada vez maior importância da gestão eficiente dos recursos.

Em reunião com a Associação Florestal do Lima, José Manuel Fernandes lamentou a falta de cadastro florestal e a descoordenação ao nível de intervenções no terreno, o que leva ao “agravamento dos riscos” e a “um gritante desperdício de recursos, seja ao nível do combate a incêndios, seja sobretudo ao nível de acções de prevenção e desenvolvimento florestal”.

Continua-se a não apostar na prevenção, o que é ainda mais grave quando é o Governo que reconhece escassez e cortes nos meios de combate a incêndios”, denunciou José Manuel Fernandes, frisando a “necessidade de imperiosa de apostar na prevenção” e condenando “uma série de disparates que estão a ser cometidos no terreno”.

Em seu entender, a floresta representa para Portugal uma mais-valia de enorme relevância no contexto global e que poderia favorecer as exportações e ajudar ao equilíbrio da balança comercial.

Estranhamente, Portugal insiste continuar sem qualquer estratégia clara para um sector, onde é fundamental actuar através de políticas de prevenção e de longo prazo. Isso só se consegue fazer depois de se conhecer a realidade, ou seja, depois de haver um cadastro completo e concreto do nosso património florestal, o que não existe”, afirmou o eurodeputado, que faz parte da comissão do ambiente no parlamento Europeu.

José Manuel Fernandes assegurou que a inexistência de um cadastro florestal é algo de inconcebível para os representantes da grande parte dos países da União Europeia. “Até a Galiza, que no último Verão passou quase incólume aos incêndios que se revelaram trágicos em Portugal, tem já um cadastro florestal”, comentou, acompanhado do presidente da Associação Florestal do Lima, Joaquim Viana da Rocha.

A necessidade de assegurar intervenções preventivas e a desproporcionalidade das áreas de cobertura das equipas florestais das mais diversas instituições a operar na região dominaram o encontro com dirigentes da organização florestal com maior número de sócios em Portugal e que cobre os concelhos de Viana do Castelo, Arcos de Valdevez, Ponte da Barca e Ponte de Lima.

Os dirigentes da instituição denunciaram a visão deturpada da realidade por parte da administração central, que se tem mostrado insensível às diferenças regionais no território nacional, tratando como igual o que é absolutamente diferente, como é o caso da realidade de minifúndios do Norte em contraponto com o Sul. Nesse contexto, lamentaram a falta de apoios para as zonas de intervenção florestal na região, dominada por minifúndios, assim como a ausência de incentivos para a exploração florestal.

As autoridades queixam-se que não há dinheiro para as acções preventivas, mas depois gastam muito mais no combate a fogos, que além disso ainda provocam prejuízos enormes”, lamentou José Manuel Fernandes, considerando inaceitável a distribuição irracional de equipas de sapadores florestais no vale do Lima: “tratando-se de áreas com características semelhantes, não faz sentido colocar uma equipa para 300 hectares e uma outra equipa para 20 mil hectares de floresta. Tem que haver eficiência na gestão dos recursos”.

O eurodeputado elencou uma série de vantagens do investimento e boa gestão das florestas, “seja para a criação de riqueza e emprego, seja para o combate às alterações climatéricas, para a fertilidade dos solos, para a biodiversidade e para a preservação ambiental”.

Por outro lado, José Manuel Fernandes salientou que a floresta poderia representar para Portugal um recurso de eleição para ajudar ao equilíbrio da balança comercial, favorecendo as exportações e reduzindo as importações de madeira.

Portugal é o país da União Europeia com mais floresta nas mãos de proprietários privados – que detêm 2,8 milhões de hectares, cerca de 85% do espaço florestal. A baixa rentabilidade e a falta de centrais de biomassa – que ajudaria a rentabilizar o trabalho de limpeza – motivam muitas queixas dos proprietários e o abandono das propriedades. A floresta ocupa 38 % do território de Portugal continental. O norte do país, especialmente o Minho, por força das suas condições climatéricas revela condições especiais para o pinho e o eucalipto.

O número de proprietários florestais da UE está estimado em 16 milhões e a gestão florestal emprega directamente cerca de 350.000 pessoas. O principal rendimento da maioria das explorações florestais provém da produção de madeira: madeira serrada, painéis à base de madeira, pasta para papel, madeira para combustível e estilhas e casca de árvores para bioenergia, justificando mais de 2 milhões de empregos, frequentemente em pequenas e médias empresas rurais, e um volume de negócios de 300 mil milhões de euros.

Na UE, ardem actualmente, em média, 500.000 hectares de floresta por ano, com as correspondentes emissões de CO2, outros gases e partículas. Nos Estados-Membros mais afectados, entre os quais se destaca Portugal, ocorrem anualmente mais de 50.000 incêndios florestais, embora na última década este número tenha sido inferior ao de décadas anteriores.