Portugal precisa de mais ambição e ficar menos dependente de ajudas

O Eurodeputado José Manuel Fernandes defende uma cultura de maior ambição por parte da sociedade portuguesa no contexto cada vez mais exigente da economia europeia e global. A ideia surge em contraponto à tendência de comodismo alimentada pela ‘subsidio-dependência’, “uma doença nacional cultivada na última década e meia de desgovernação socialista”.

Intervindo no âmbito do ciclo de conferências com eurodeputados promovido pela Associação Comercial e Industrial de Barcelos (ACIB), José Manuel Fernandes salientou a importância das pequenas e médias empresas e de um conjunto de medidas que urge tomar para fomentar a aposta estratégica no aumento das exportações e na diminuição das importações.

Façamos o nosso trabalho”, desafiou o eurodeputado minhoto. E alertou que “Portugal tem andado distraído”. É que dentro de alguns meses, em Junho, “o Parlamento Europeu vai votar o quadro para os novos fundos comunitários após 2013, quando em Portugal ainda nem sequer se encontrou forma de capitalizar devidamente os recursos disponíveis actualmente e que são fulcrais para assegurar o cumprimento dos objectivos traçados na Estratégia da UE 2020, com a qual Portugal também se comprometeu”.

Em jeito de desafio aos empresários e dirigentes associativos, José Manuel Fernandes sustentou que “não podemos estar sempre a olhar para a globalização como um problema, mas sim como um desafio. Temos este mau hábito de pensar pequeno e ficar sempre à espera de poder continuar a viver à custa das ajudas, o que para a União Europeia até nem é grande problema, porque Portugal representa apenas cerca de 1% da economia europeia”.

“Mas temos de alterar este rumo errado e ser ambiciosos, porque há recursos para criar condições à potenciação e rentabilização das nossas potencialidades”, reclamou.

Numa conferência sobre o QREN e as novas perspectivas financeiras da UE, o eurodeputado afirmou que “é preciso ir para além da excelência e procurar rentabilizar o valor acrescentado europeu”.

“Por que têm os nossos jovens qualificados de partir para melhores empregos no estrangeiro e criar lá riqueza? Por que não havemos de os manter cá e criar condições para rentabilizar os seus conhecimentos e mais valia em favor do País? Por que havemos de estar sempre à espera das ajudas europeias e não pensamos como podemos um dia passar a ser contribuintes líquidos da UE?”, questionou.

Poupar e reciclar

Ensino e formaçãode qualidade, conhecimento e investigação tecnológica são apostas estratégicas numa Europa que pretende chegar a 2020 com 75% da população com 20 a 64 anos empregada, uma taxa de abandono escolar inferior a 10% e 40% de jovens abaixo dos 34 anos com um diploma de ensino superior.

O objectivo passa ainda por reduzir em 20% as emissões de carbono e aumentar em 20% a eficiência energética e a produção de energias renováveis, a par do combate à pobreza. Face à problemática das matérias-primas, salientou a importância do ambiente e da reciclagem. “Os preços das matérias-primas têm vindo a aumentar, e a situação vai piorar”, alertou. Por isso, vincou que “vamos ter mesmo que interiorizar e concretizar os conceitos poupar e reciclar”.

A estratégia UE 2020 propõe uma “Europa mais eficiente”, capaz de assegurar a transição para uma economia hipocarbónica e de desenvolver uma política industrial para a era de globalização, melhorando o ambiente empresarial, especialmente para as pequenas e médias empresas.

Segundo o eurodeputado, as PME’s representam um peso decisivo na dinamização da economia tanto em Portugal, como na Europa. É por isso vital que se concretizem medidas que ajudem os empresários a concretizar investimentos e projectos, tal como vem sendo recomendado pelas instituições europeias”, afirmou o eurodeputado minhoto.

Em seu entender, o combate à burocracia, o reforço da capacidade de financiamento e a agilização no acesso aos fundos comunitários e programas comunitários de apoio são tarefas prioritárias para as PME’s, que representam 81% do emprego em Portugal, bem acima dos 67% da média europeia.

Na Europa, existem 20.709 milhões PME’s, que representam 99,8% da totalidade das empresas na UE e 89.947 milhões de postos de trabalho. Em média, cada PME emprega 4,3 pessoas, o que evidencia o seu contributo para a diversidade empresarial e dinamização económica.

Perante uma plateia com mais de uma centena de pessoas que lotou o auditório dos bombeiros Voluntários de Barcelos, José Manuel Fernandes sublinhou ainda as vantagens da cooperação e reforço da coordenação de políticas no seio da União Europeia, apontando como exemplos as áreas da defesa militar e política externa, onde os 27 estados-membros gastam mais do que os EUA. Outra das vantagens é ao nível da mobilidade dos recursos humanos, numa Europa com 4,5 milhões de vagas de emprego por preencher.